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ESTRATÉGIAS E SETUPS


 

SOBRE SETUPS, COMPUTAÇÃO E HEURÍSTICAS
 

O mercado de ações desperta interesse e fascínio diversos no ser humano, mas em comum todos buscam de alguma maneira uma forma de se tornar vencedor nesse mundo. E a partir daí podemos identificar abordagens das mais variadas, que vão desde a superstição pura e simples até intricados e complexos sistemas computacionais, passando por intuições, astrologia e muito mais.

 

Por mais estranhas que possam nos parecer, se a abordagem faz sentido e dá resultado para aquele que a utiliza, ótimo... para ele. Sim, porque para se utilizar algum método com segurança, faz parte do processo entender o método e ser convencido da sua eficácia. Esse é o primeiro desafio que enfrentamos quando tornamos algum método público.

 

Nessa linha, a abordagem que adoto é uma abordagem computacional para encarar o mercado, que se apóia na construção de heurísticas para identificação de operações que tenham a tendência como componente. Mas o que é isso? O QUE SÃO HEURÍSTICAS?

 

Na computação, uma das áreas das mais interessantes é a que analisa a complexidade dos problemas. Resumidamente (BEM resumidamente) falando, encontramos problemas de complexidade "P", para os quais podemos encontrar soluções exatas em tempo aceitável (na verdade o termo técnico é "polinomial e determinístico", mas vamos usar o termo "aceitável" para facilitar o entendimento), problemas de complexidade "NP", para os quais podemos encontrar exatas soluções, mas em tempo não aceitável e problemas de complexidade "NP-Completo", para os quais não podemos encontrar soluções exatas, em tempo aceitável ou não.

 

A questão de identificar o próximo movimento de uma ação definitivamente não é um problema de complexidade "P", e por isso quando se pensa um setup para operações de mercado estamos, em última instância, reduzindo o problema através de alguma abordagem. São exemplos de abordagens de um problema:

 

Aproximação: Um algoritmo que rapidamente encontra uma solução não necessariamente ótima, contudo dentro de um certo intervalo de erro. Em alguns casos, encontrar uma boa aproximação é o suficiente para resolver o problema.

 

Probabilístico: Um algoritmo que pode obter em média uma boa solução para um problema apresentado, e que utilizam algum grau de aleatoriedade como parte da lógica.

 

Casos Particulares: Quando se reconhecem casos particulares do problema para os quais existem soluções rápidas.

 

Heurísticas: Um algoritmo que trabalha razoavelmente bem em muitos casos, mas não há prova de que são sempre rápidos e que produzam sempre bons resultados.

 

Os setups (ou algoritmos) apresentados aqui neste livro (e possivelmente na grande parte do mundo "público" do mercado financeiro) são heurísticas, na sua mais pura definição, trabalhados com base empírica (busca pela observação e experimento). As técnicas heurísticas não asseguram as melhores soluções, mas somente soluções válidas, aproximadas; e freqüentemente não é possível justificar em termos estritamente lógicos a validade do resultado.

 

A utilização de testes de consistência que aplicamos aqui para os setups visa identificar a eficácia da heurística para os casos passados e, a partir daí, gerar PARÂMETROS que permitam avaliar a continuidade da eficácia da heurística nos tempos futuros, confrontando-a com os resultados passados para identificar se continua válida ou não a sua aplicação. Além, esses parâmetros servem também para se construir os cenários que irão nortear as ações de controle de risco e acompanhamento da operação.

 

Aqui vale mais do que nunca o ditado popular que diz que o ótimo é inimigo do bom. Sabemos que a natureza do problema não permite uma solução ótima, então buscamos através das heurísticas soluções boas. E por serem soluções boas, e não ótimas, é que os outros aspectos que defendemos aqui, como o controle de risco, disciplina e equilíbrio emocional têm papel fundamental no resultado final, e fazem toda a diferença entre o sucesso e o fracasso.


 

O PAPEL DO "ÍNDICE DE TOLERÂNCIA"

 

O "Índice de Tolerância" não influencia na decisão de caracterização da tendência de um ativo, momento em que definimos se vamos ou não iniciar uma operação de compra (decorrente da confirmação de uma tendência de alta) ou venda (decorrente da confirmação de uma tendência de baixa). O "Índice de Tolerância" só atua APÓS iniciada a operação, funcionando como um confirmador de finalização de tendência.

 

E por que temos o "Índice de Tolerância"? Pela simples razão de que o momento de finalização de uma tendência se dá, muitas das vezes, em uma região de turbulência. Nessas situações, ora a força vendedora é predominante, ora a força compradora é predominante, e então o ativo experimenta oscilações ao redor do ponto de decisão. Explicado isso, fica claro que o "Índice de Tolerância" funciona como um amortecedor para essas regiões, criando uma área ao redor do ponto de decisão em que é permitido ao ativo oscilar, sem que disso decorram decisões de encerramento da operação.

 

O "Índice de Tolerância" nos permite minimizar os efeitos das oscilações ao redor do ponto de decisão.

Esse conceito de "Índice de Tolerância" também decorre da Física, sendo conhecido como "Histerese", e tem aplicação em vários tipos de modelagens sistêmicas. Adaptado para os setups de Trend Following nos permite aproveitar uma tendência de maneira mais ampla, potencializando os retornos obtidos.

 

 

O PAPEL DO "ÍNDICE DE FORÇA"

 

Com explicado anteriormente, um setup eficiente deve manter o equilíbrio entre a questão do "Timing" e o "Filtro p/ Indicações Falsas". Nos setups aqui utilizados esse equilíbrio é dado pelo "Índice de Força".

 

O "Índice de Força" procura medir a inércia de um ativo, isto é, qual é a valorização que deve ser imposta ao papel para que o movimento iniciado (alta ou baixa) seja continuado. É exatamente o mesmo conceito da Física Clássica, agora aplicado sobre os preços. Dessa forma, temos então para cada ativo um "Índice de Força de Compra", que deve ser utilizado na determinação das tendências de alta, e um "Índice de Força de Venda", que deve ser utilizado na determinação das tendências de baixa.

Quanto de força é necessário para fazer com que um ativo continue no movimento?

 

O "Índice de Força" é obtido a partir da análise do comportamento histórico do ativo. Dessa forma, como não são utilizados percentuais gerais, mas sim percentuais específicos para cada ativo, o indicador de força apresenta-se razoavelmente ágil para permitir o aproveitamento extenso da tendência, e suficientemente amplo para evitar boa parte dos sinais falsos usualmente apresentados durante os períodos de lateralização.

 

É um conceito incrivelmente simples, mas que melhora substancialmente o resultado dos setups. Após a explicação do papel do "Índice de Tolerância", mostraremos como são calculados estes componentes.

 

Por fim, cabe aqui uma menção: alguns setups utilizam o indicador MACD como uma espécie de índice de força. O problema com essa abordagem é que o MACD é um indicador que torna o setup "lento", trazendo assim toda a gama de problemas relatados no post "Aspectos Específicos de um Setup de Trend Following". Utilizamos sim o MACD na nossa abordagem, mas como uma informação de consolidação de tendência, atuando assim como um indicador acessório nas nossas análises, sem papel nas decisões de compra e venda emitidas pelos setups.

 

 

ASPECTOS ESPECÍFICOS DE 

UM SETUP DE TREND FOLLOWING

 

Os setups de Trend Following têm por objetivo, TODOS ELES, determinar a tendência de um ativo. Porque, em suma, é isso que um seguidor de tendência precisa saber. Determinar a tendência é muito fácil a princípio, porém quando avaliamos o setup frente aos aspectos de "Timing" e "Filtro para Indicações Falsas" é que conseguimos realmente separar o joio do trigo.

 

TIMING
 

Há diversas maneiras de se determinar a tendência de um ativo, e não se assuste se por acaso receber informações contraditórias a partir de setups diferentes. Isso acontece porque, apesar de todos os setups de Trend Following perseguirem o mesmo objetivo, eles atuam com critérios diferentes para caracterização da tendência, e essa diferenciação de critérios resulta em um "timing" diferente para perceber a tendência de um ativo.

 

O "Timing", ou momento de percepção da tendência, é de suma importância para que um setup se apresente lucrativo. Como o Trend Following não é preditivo, mas sim reativo, as nossas operações são sempre iniciadas após o estabelecimento da tendência e finalizadas após o término destas. Isso implica dizer que nós aproveitamos apenas uma parte da tendência. Mas, o quão extensa será essa parte? Isso depende exatamente do "Timing" do setup.

 

Um setup "lerdo" na percepção da tendência reduzirá a parte aproveitável da mesma, e por conseqüência reduzirá também o lucro obtido. Além, quanto mais "lerdo" for um setup de Trend Following, maior será a necessidade de amplitude da tendência para que você possa aplicá-lo com sucesso. Com isso, serão geradas poucas entradas lucrativas, desperdiçando boa parte dos movimentos do mercado.

 

Um setup "apressadinho" na percepção da tendência irá, por sua vez, gerar um número enorme de sinais falsos de entrada/saída, provocando um número muito grande de prejuízos em seqüência, podendo até mesmo se caracterizar como um setup perdedor no longo prazo.

 

Podemos chamar os setups "lerdos" e os "apressadinhos" de setups desequilibrados. Para estes setups, haverá momentos em que eles irão per formar muito bem e momentos em que irão per formar muito mal. Como ponto comum, quando submetidos a um longo período de avaliação não se mostram atrativos.

 

FILTRO PARA INDICAÇÕES FALSAS
 

De tempos em tempos, os ativos entram em fase de lateralização. Estes são momentos de completa indecisão, onde ora o ativo tenta estabelecer uma tendência de alta, ora tenta estabelecer uma tendência de baixa, porém nunca consegue consolidar uma ou outra. Estes períodos são terríveis para os setups de Trend Following, a não ser que estes possuam em sua estrutura algum mecanismo que filtre esses sinais falsos de tendência.

 

Pode não parecer muito óbvio a necessidade de um mecanismo apurado de filtro de indicações falsas, mas isso é fundamental para evitar que um seguidor de tendências devolva ao mercado grande parte dos lucros obtidos nos tempos de "vacas gordas".

 

Explicado os aspectos acima, o grande desafio para um setup de Trend Following é equilibrar essas duas características. Se é dado mais importância ao "Timing", o setup tende a ser vulnerável aos sinais falsos de tendência, e vice-versa.

 

Solução para isso? Índices de Força e Índices de Tolerância.

 

 

CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DE UM SETUP
 

Pois bem, entendida a definição de o que é setup de acordo com Trend Following, temos agora que estabelecer os critérios que devem ser aplicados para se conhecer a eficácia e características de um setup, a fim nos dar subsídios para decidir se devemos ou não utilizar este setup para operar determinado ativo. Será mesmo uma máquina de fazer fortuna? Só avaliando para saber...

 

Para isso, através de backtest aplicados sobre uma base histórica ampla devemos ser capazes de identificar:

 

Percentual de Acerto: identifica o percentual em que a aplicação do setup apresentou resultados positivos (lucro).

 

Percentual de Falha: identifica o percentual em que a aplicação do setup apresentou resultados negativos (prejuízo).

 

Resultado Positivo Médio: identifica o retorno médio obtido nas operações lucrativas.

 

Resultado Negativo Médio: identifica o retorno médio obtido nas operações com prejuízo.

 

Número Máximo de Perdas em Seqüência: identifica a pior seqüência de operações negativas registradas.

 

Perda Máxima em Seqüência: identifica o pior caso em termos de prejuízos cumulativos.

 

Rentabilidade Apresentada: registra a rentabilidade obtida pelo conjunto das operações registradas.

 

Desempenho Frente ao Buy-and-Hold: compara o desempenho apresentado pelo setup com o desempenho obtido por Buy-and-Hold para o mesmo período.

 

Estes índices devem ser apresentados no que chamamos de "QUADRO de três", que segmenta o resultado em três grupos:

 

Atuação do Setup no Modo COMPRA: levam em consideração apenas as operações de COMPRA apresentadas pelo setup.

 

Atuação do Setup no Modo VENDA: levam em consideração apenas as operações de VENDA apresentadas pelo setup.

 

Atuação do Setup no Modo COMBINADO: levam em consideração tanto as operações de COMPRA quanto as operações de VENDA apresentadas pelo setup.

 

Por que apresentamos os resultados em três grupos distintos? Porque é perfeitamente possível que um setup altamente lucrativo e vencedor para as operações de COMPRA apresentem resultados pífios para as operações de VENDA, e a única forma de identificar essa característica é através da visualização de resultados pelo "QUADRO de três” acima explicados.