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VIDA APÓS

MORTE NO MERCADO

 

 

Não há financeer que se contente com o purgatório. Quem foi mesmo que disse que não sabemos para onde vamos após a morte? Dúvida atroz entre céu e inferno; ninguém se contenta com o purgatório. Para os financeers, porém, não há incógnita alguma, pois o mercado é holístico e omnisciente. O mercado descreve, detalhadamente, seu afterlife. Basta ligar o deus ex machina e entrar no homebroker. Bingo!

 

Qualquer mortal que já tenha vendido um ação antes da hora sabe disto, que a Bolsa lhe permite enxergar o pós-morte, prazer masoquista com o exercício contrafactual levado à sétima potência apocalíptica. “Afinal, como ocorreriam as coisas se eu tivesse mantido minha posição? Ah, curiosidade safada! Vou lá no homebroker dar uma olhadinha e já volto!”. E volta sorrindo ou chorando, emoção despendida aos mortos.

 

Como o mercado tem a mão invisível, nos fica arraigada a impressão de que nossa saída do papel é um perfeito ceteris paribus, tudo o mais constante. A vida continuou funcionando, só que sem mim; veja lá o que aconteceu depois que eu morri; teria sido tão feliz. Só que, in fact, esse output observado é tenro galhinho eleito para brotar em meio a uma árvore gigantesca de possibilidades. Acontece que vingou, e vingou bonito, né? Só para me provocar.

 

No período T0, tomamos decisões sempre condicionadas ao conjunto de informações disponíveis em T0. Se essas decisões provam-se acertadas em T1, grande mérito! Consegui inferir! Isto é, consegui, a partir de uma amostra, vislumbrar precisamente a população! Já se essas decisões provam-se erradas em T1, resta a penitência maior! Como é que eu não vi? Tão óbvio, meu Deus! Que burrice tamanha! E assim são chamados de seres humanos. Nem para tanto, nem tampouco.

 

No início desta semana, um grande amigo da casa pediu um conselho, por sua própria conta e risco, sobre a hipotética compra de calls de Petro, mais precisamente PETRI28. Tendo ouvido nossos e demais argumentos que povoavam sua mente, esse amigo comprou, na tarde de segunda-feira, 30 de agosto, várias dessas calls, por R$ 0,27 cada.

 

Com um belo empurrão sistêmico, a manhã da quarta-feira lhe encontrou com PETRI28 cotada a R$ 0,36.Tocou o telefone da Empiricus.“Vocês acham que já está na hora de vender?”. Pergunta à qual respondemos com um “Não sei.Você acha que uma valorização de 33,33% em menos de dois dias pode ser considerada razoável?”. Então, tudo indica que foram vendidas as respectivas.

 

Na tarde de quinta-feira, tocou de novo o telefone. Do outro lado da linha, ouvia-se um sujeito absolutamente deprimido, sentado à frente do monitor, vigiando pagões na pedra das calls entre R$ 0,71 e R$ 0,72. Sua voz era triste, muito mais pesada que as mazelas do mundo, muito mais pesada que a voz dos incautos que venderam Petro a descoberto e foram short-squeezed. Porque ele deixou uma baita grana na mesa! O que são R$ 0,36 perto de R$ 0,72?! O que é o milionário perto do bilionário?!

 

Há coisas que não existem para serem vistas, sequer imaginadas. De nossa parte, queremos um afterlife tranquilo, dentro do caixão, sem represálias morais. A vida como ela é, infinitamente melhor do que a vida como poderia ser.

 

P.S. Felizmente, nosso amigo hoje está recuperado e, inclusive, pagará o happy hour.